sábado, 31 de julho de 2010

Depois de bater a cabeça repetidamente na quina dura da parede do teatro pós-dramático, coisas além de sangue começaram a surgir, por mais que, no momento, não percebêssemos em meio à tontura das pancadas...
Sozinhos, descobrimos que podíamos dividir certas tentativas despretenciosamente. Foi o que aconteceu: tirados do fundo de um baú onde quinquilharias pós-dramáticas eram guardadas, um texto e um punhado de elementos com milhões de possibilidades - água, velas, fogo, escuridão, luz, casa, subconsciente, sombra, cinzas... ui!
Coagida em um pequeno espaço demarcado por blocos encimados por velas com diversos tempos de uso, única fonte de luz de toda a cena, uma personagem se dividia entre o medo e desespero velados e a informalidade leve das conversas amenas.
Ao redor de seu espaço de movimentação e do alcance da luz das velas, escuridão completa! Vozes vindas da própria escuridão, ou da própria personagem (apesar de alheias a sua garganta), contradiziam ou reforçavam as falas da figura iluminada, iluminando também sua confusão, sua desolação, fragilidade e embuste.
Nós, "nequianos", nos percebemos, de repente, manuseando os elementos da matéria-prima da contemporaneidade: a sugestão, o não-linear, o subjetivo e o não-literal... A partir de uma construção coletiva, vimos surgir no produto uma lacuna, que é exatamente onde o espectador contemporâneo deve se encaixar para fazer a arte viver.
Se o tio Lehmann nos visse agora!
Demarcamos o primeiro ponto na primeira conquista, em que a primeira situação cênica envolvera o público (nós mesmos) de forma arrebatada de verdade e sutileza; o segundo ponto traçamos nesta segunda conquista. Estamos prontos para, então, traçar uma reta entre os dois e aguardar um terceiro, que começará a nos revelar um desenho sincero...

domingo, 11 de julho de 2010

Embarcamos em um navio chamado Teatro Pós-Dramático Ship... Nem todos aportaram com a dignidade intacta: levemente mareados, deixamos às tempestades do caminho as regurgitações de verbos indigestos. Moby Lehmann Dick não se deixaria abater facilmente, não antes de tentar abater alguns dos nossos antes... e conseguir, provavelmente.
Desistimos de enfiar a baleia gigante e arredia descarga abaixo e decidimos sentar para uma civilizada conversa em que ambas as partes fariam concessões. O resultado nos levou ao interior da casa de um personagem delicado e ingenuamente trágico.
E, entre mortos e feridos, salvaram-se seis!
O personagem nos convidou a sua casa e nos serviu, surpreendentemente, uma bem-vinda receita pós-dramática depois da longa viagem. Após o jantar, percebemos que era hora de abaixar âncoras e testar os efeitos do mar em terra firme.
"Agora é com vocês, marujos! Deixarei vocês sozinhos por algumas semanas para que, juntos, construam um avião. Se, quando eu retornar, ele voar... arrumaremos as malas para uma nova viagem! Adeus, marujos!", foi o que disse nossa Comandante.
Agora, tínhamos uma missão...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Se o último encontro tinha sido dedicado principalmente ao exercício de estar fisicamente em cena sem os artifícios do mostrar, hoje foi o dia de tentar dar à palavra a mesma oportunidade de se apresentar sem rococós. É muito simples o exercício: escolha uma frase, uma frase qualquer, sente se numa cadeira no palco e diga-a de forma espontânea.